Seis anos após sua morte, João Paulo 2º foi proclamado beato neste domingo pelo seu sucessor, em uma cerimônia assistida por mais de um milhão de pessoas na praça de São Pedro. Milhares de fiéis que
assistiram à cerimônia de beatificação de João Paulo 2º fizeram fila para venerar os restos mortais do papa, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
A freira francesa Marie Simon-Pierre, 50, está no centro da beatificação de João Paulo 2º neste domingo. Foi ela quem recebeu o milagre atribuído ao papa e que permitiu à Igreja Católica torná-lo bento.
"Estava sofrendo de mal de Parkinson. A doença foi diagnosticada em junho de 2001. Toda a metade esquerda do meu corpo fora afetada, o que me causava sérias dificuldades por eu ser canhota.
Passados três anos, os sintomas se agravaram: comecei a piorar dia após dia. Não conseguia mais escrever, não conseguia mais dirigir o carro a não ser em percursos muito curtos. Estava exausta.
Desde o diagnóstico, tinha dificuldade para ver João Paulo 2º na televisão. Mas me sentia muito próxima a ele em minhas orações e sabia que ele seria capaz de compreender o que eu vivia. Admirava sua força e coragem.
Em 2 de abril de 2005, o anúncio da morte de João Paulo 2º fez com que meu mundo desabasse: havia perdido o amigo que me compreendia. Surgiu-me a sensação de um grande vazio --mas ainda tinha a certeza de Sua presença viva.
Em 1º de junho, eu já não aguentava: levantar-me e caminhar era uma luta. No dia seguinte, procurei minha superiora e lhe solicitei que me dispensasse do trabalho. Ela me pediu que resistisse até a festa da ascensão em Lourdes, em agosto, e acrescentou: "João Paulo 2º ainda não disse sua última palavra".
Depois da oração noturna, passei pelo meu escritório antes de me recolher a meu quarto. Senti o desejo de apanhar uma caneta e escrever, como se me instruíssem a fazê-lo. Eram 21h30 ou 21h45.
Minha caligrafia estava perfeitamente legível: surpreendente! Acomodei-me em minha cama, atônita.
Eram passados exatos dois meses do retorno de João Paulo 2º à morada do Pai.
Acordei às 4h30, espantada por ter conseguido dormir.
Levantei-me rapidamente; meu corpo já não estava dolorido, a rigidez tinha desaparecido; e eu não me sentia mais a mesma, interiormente. Mais tarde, dei-me conta de que, enquanto caminhava, meu braço esquerdo se movia; já não permanecia imóvel, encostado ao corpo.
Em 7 de junho, meu neurologista se surpreendeu ao constatar a repentina desaparição de todos os sintomas da doença. No dia seguinte, a superiora-geral da ordem comunicou a toda a comunidade a graça concedida a nós.
Já se passaram dez meses desde que interrompi toda espécie de tratamento. Retomei o trabalho normalmente e não tenho dificuldade alguma para escrever ou guiar. A sensação é a de que renasci.
Hoje afirmo que o amigo que deixou nossa Terra continua muito próximo de meu coração. Que o Senhor tenha me concedido viver, por intercessão de João Paulo 2º, é um grande mistério; mas nada é impossível para Deus."
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